Fazemos acontecer

Quinzistas organizados

Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 06ª Edição | Março | 2013
Foto: Alessandro Maschio / MBM Ideias

Chefes das torcidas equilibram paixão e diplomacia

O segurança bancário Antonio Carlos Leite, o Carlinhos, 42, enfrentou preconceito quando criou sua torcida uniformizada do XV. O estudante Felipe Jorge Dario, 26, o Gema (por causa de um inseparável boné amarelo que usava na adolescência), não conseguiu se formar na faculdade de biocombustíveis: é que as aulas de física aconteciam às quartas-feiras à noite, e ele preferiu não ‘faltar’ aos jogos do XV. O professor Ivan Oriani, 34, já se acostumou a perder algumas datas especiais por causa das partidas.

Eles têm algo em comum: nem se fala da paixão pelo XV, mais que evidente, mas é que são presidentes de três das mais representativas torcidas do clube. Carlinhos comanda a AR (Amor Real) XV, desde 2005, mesmo ano em que foi criada a Esquadrão, hoje comandada por Gema. A Super Raça Quinzista é mais antiga, vem de 1997, é presidida por Oriani.

Carlinhos conta que enfrentou ‘uma barra’ logo ao divulgar, em 2005 (o time estava na terceira divisão), o nome da nova torcida. “Foi muito polêmico. Na época teve muito preconceito e encaramos umas críticas muito ruins. Diziam que a gente estava fazendo apologia ao crime (AR-15 é o nome de uma carabina, muito usada pelo crime organizado no Brasil). Foi difícil, mas resolvemos dar a cara pra bater”, conta.

No começo a torcida, como ele diz, ‘cabia numa van’, pois tinha apenas nove pessoas que se reuniam num bar da rua Silva Jardim esquina com a São José. Hoje a AR XV já vendeu mais de 15 mil camisetas e envolve aproximadamente 250 pessoas. “Mas o presidente tem de estar atento a tudo, tem de saber tudo o que acontece. Isso toma muito tempo da gente. A família reclama um pouco, mas entende”, afirma Carlinhos, que é casado com Roseneide e, há um mês, tornou-se pai de João Pedro.

Ele explica que muitas vezes cabe ao presidente da torcida fazer o papel de ‘colocar panos quentes’ quando acontece algum desentendimento no estádio. “Isso é comum de acontecer porque o torcedor é movido pela emoção e, geralmente, é pessimista ou desconfiado, e qualquer coisa pode causar uma briga. Você tem de ter mão firme, tem de ser um diplomata também e contar com o respeito da torcida”, ensina.

Carlinhos já apartou briga (a última vez aconteceu no ano passado, em Penápolis), já se revoltou contra erros (intencionais ou não de arbitragem), já ficou um tempão em ônibus, tudo por causa do XV. “Mas acho que a maior loucura que fiz pelo meu time foi viajar no Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados. É um amor grande, que começou quando eu tinha seis anos e meu pai me levou para ver um jogo no Barão. E continua até hoje.”


A Torcida do XV é uma das mais apaixonadas do BrasilGente jovem

Gema está na presidência da Esquadrão desde os 19 anos. Mas é integrante desde os 15, quando o grupo foi fundado. Aliás, a Esquadrão é conhecida por ser a torcida de menor faixa etária, de uma rapaziada com idade média de 20 anos. “É sim uma torcida jovem e aí é mais complicado ainda porque a maior parte dos jovens não tem muitas oportunidades de lazer”, explica Gema, lembrando que a Esquadrão tem 270 sócios.

A torcida, que tem registro em cartório desde 2008, hoje conta com uma sede que fica na rua São José (duas quadras abaixo do Barão de Serra Negra), mas pretende conseguir um espaço maior para realizar oficinas de percussão com seus sócios. “Eu tenho essa preocupação em fazer algo diferente, porque sei, e sinto na pele, que ainda existe preconceito contra torcida organizada. Mas só que não adianta se fazer de vítima: as organizadas é que criaram essa imagem”, ressalta.

Por isso mesmo, acha fundamental fazer o papel de conciliador. “Eu tento o tempo todo me controlar, mesmo tendo o temperamento apaixonado. Eu tenho de me segurar, e sempre tento não partir para o confronto. Mas as torcidas do XV não têm essa tradição de violência e para onde vamos somos bem recebidos”, afirma.


Gente tranquila

Ivan Oriani foi um dos fundadores da Super Raça Quinzista, junto com Mateus Bonazzi, que começou como presidente, e mais um grupo de amigos. Mas a partir de 2004 ele assumiu a presidência. “É algo de grande responsabilidade, principalmente por causa da segurança. A sorte é que a nossa torcida é tranquila. Mas tudo vai de acordo com a cabeça do presidente. Se ele não consegue segurar a torcida, a coisa desencaminha”, explica.

Para Ivan, o presidente é também um administrador de conflitos e, quanto maior a torcida, maior também a sua responsabilidade. Aliás, hoje ele classifica a Super Raça Quinzista como ‘um grupo de amigos’ que se encontram todos os jogos do XV e inclui no máximo 40 pessoas. “Ficou mais light  também, porque com o tempo, vamos nos dedicando mais à família e ao trabalho, embora o amor ao time não tenha diminuído”.

Tanto que costuma ir a todos os jogos, vai a outras cidades (mas agora de van e não mais de ônibus) ou ‘pega carona’ com as outras duas grandes torcidas, com quem garante manter um ótimo relacionamento. “Em todos esses anos, nós nos acostumamos a sofrer. Torcemos tanto na 1ª, quanto na 2ª ou na 3ª divisão. Só que o XV parece ser um time diferente. Porque quanto mais sofre, mais a torcida vem aumentando.” (por Ronaldo Victoria)

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