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Especial maternidade - A volta das doulas

Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 13ª Edição | Abril | 2014
Foto: Alessandro Maschio
No ‘país da cesariana’, profissionais se capacitam para dar assistência às mulheres que desejam o parto nornal
 
Por Ronaldo Victoria
 
Num país em que quase metade dos partos acontece por cesariana, e boa parte delas sem necessidade, começa a crescer a luta por um parto humanizado. Afinal, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), de 2000 a 2010, dos novos brasileiros que vieram ao mundo, 43,8% foram por cesariana. O país fica em segundo lugar no mundo, atrás apenas de Chipre, com 50,9%, o único em que o índice ultrapassa a metade.
 
Dentro deste contexto, as doulas vêm ganhando espaço. O nome da função ainda não é tão popular, mas vem do grego antigo. Significa ‘mulher que serve’, ou seja, era, na Grécia clássica, aquela serviçal que ajudava a dona da casa a ter bons partos. Esse conceito veio para os tempos atuais e, hoje, a doula é uma profissional que presta assistência à gestante e sua família, em busca de um parto seguro.
 
E por seguro entenda-se normal, sem procedimentos cirúrgicos mais complexos, como a cesárea. “Nós incentivamos o parto normal, assim como a OMS e o Ministério da Saúde. Mas, obviamente, quem toma as decisões é o casal. Nosso papel é oferecer informações sobre os riscos e benefícios de cada um, para que eles possam fazer escolhas conscientes”, conta Fabíola Peron, que fez curso de formação de doula, em 2011, e acompanhou o primeiro parto em fevereiro do ano seguinte.
 
Regina Machado de Souza, que começou a prática na mesma época, em 2011, lembra que os benefícios do parto normal são inúmeros. “Isso tanto para a mãe, que tem maior recuperação no pós-parto, como para o bebê, que participa ativamente do nascimento e tem menor risco de desconforto respiratório. A cesariana é indicada apenas quando a mãe ou o bebê correm algum risco, mas vem sendo realizada em demasia” afirma.
 
De acordo com Regina, o índice de cesáreas chega a 80% no Brasil, quando se trata de partos feitos pelo sistema particular. Por esse motivo, as doulas seriam malvistas pela classe médica? “Exagero seria generalizar. Há obstetras que são a favor de parto normal e outros que não são. Uma situação complicada, mas muito comum, são os casos de médicos que afirmam ser adeptos do parto normal, porém, no momento do parto, dão falsas indicações de cesáreas. A presença da doula pode, sim, ser incômoda para esse profissional”, ressalta.
 
Por outro lado, Fabíola destaca aqueles que encaram a atuação da doula como uma soma de esforços. “Eles entendem que os papéis são complementares no cenário da humanização do parto”, afirma. Para essa questão, as duas destacam o documentário O Renascimento do Parto e uma frase do obstetra francês Michel Odent: “Para mudar o mundo, é preciso antes mudar a forma de nascer.”
 
Mas o que elas fazem? 
 
A função das doulas é acompanhar todo o trabalho de parto e as primeiras horas depois dele. “O objetivo é proporcionar conforto físico e emocional, diminuição da dor e dos desconfortos por meio de massagens, técnicas de respiração e encorajamento, além de ser uma presença amiga constante”, define Fabíola.
 
A atuação começa logo nos primeiros meses de gravidez, estendido a toda a família e não apenas à gestante. Por ainda existirem algumas dúvidas sobre o trabalho, alguns ainda o confundem com o das parteiras. “A parteira tradicional é uma mulher que aprendeu seu ofício. Existem também as enfermeiras obstetras ou obstetrizes, que também são consideradas parteiras. As doulas não realizam nenhum procedimento médico ou cirúrgico, mas permanecem ao lado da mulher durante todo o parto”, explica Regina.
 
Na visão de Regina e Fabíola, a mulher que deseja ser doula deve ter muita paciência e disponibilidade, não precisando ser profissional da saúde. Atualmente, no Brasil existem cursos de capacitação, com conteúdo baseado na OMS e na medicina baseada em evidências.
 
EXPERIÊNCIA
A administradora Débora Lorenzi Ganino, 36, contou com o apoio de Regina no parto de sua primeira filha, Cora, nascida há sete meses. “Ela me acolheu no desenvolvimento da minha gestação, com dicas de leitura, de como amenizar as minhas dores lombares, que eram intensas. E acabei optando pelo parto natural, apesar de ser considerado de risco”, lembra.
 
O trabalho começou logo aos dois meses de gestação. Débora fez aulas de hidroterapia, acupuntura e ioga. “Aprendi muito nesse processo, que eu poderia ter domínio próprio no momento do nascimento”, conta. A administradora aprendeu também que o parto natural tem uma série grande de vantagens:  risco menor de infecções,  possibilidade de o bebê respirar melhor ao nascer, descida mais rápida do leite, recuperação também mais rápida, e o estabelecimento imediato de um vínculo entre a mãe e o bebê por meio da amamentação.
 
“Eu me conscientizei disso tudo, apesar das dores e do tempo que durou, das 22h de um dia às 4h do outro. E tive o bebê no hospital. Segui todas as orientações médicas do pré-natal. Tive todo o apoio da Regina e do meu marido, que ficou do meu lado e apoiou minha decisão. Mas o tempo todo eu sabia que a cesárea poderia acontecer, se houvesse algum risco para mim ou para a Cora. Mas não aconteceu e me considero privilegiada”, conclui Débora.
 
Na foto, Débora e a doula Regina: acompanhamento durante toda a gravidez.
 

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