Fazemos acontecer

Laços de ternura

Publicado em 03 de Maio de 2013.
Foto: Bolly Vieira

Mulheres especiais falam sobre o que aprenderam com suas mães e, agora, ensinam às suas filhas

A arquiteta Silvana Bordenale achava um exagero da mãe, a comerciante aposentada Marita Bordenale, a preocupação com o comportamento e os bons modos. Era um tempo em que uma senhorita tinha de ser elegante em público. “Ela chegava a me obrigar a andar com um livro grosso na cabeça para me forçar a ter uma boa postura. Eu não gostava muito, levava na brincadeira, mas depois vi que era importante”, conta.

Isso acontece na educação das filhas. Se não chega a usar o livro, Silvana procura transmitir isso para as duas filhas. Com a mais velha, Bruna, de 20 anos, ela já conseguiu retorno. Mas a mais nova, Victoria, de 12, está na fase do skate, da bicicleta, do futebol. “Mas acho que tudo tem seu tempo”, afirma. Ser mãe, já disseram, é aceitar melhor o que a sua mãe dizia ‘quando você tiver as suas filhas...’ Mais que um laço genético, a maternidade une as mulheres pelo entendimento, pelo carinho, pela aceitação.

Também é assim com quatro gerações femininas: Soledad Orsini Fernandes, com 99 anos; que gerou Maria Angélica Fernandes Siqueira, hoje na casa dos 70; que deu à luz Jussara Siqueira Sansígolo, na casa dos 50; mãe de Fernanda Sansígolo Salem, com 28 anos. “A dança nos uniu e nos definiu, porque somos uma linhagem de mulheres fortes e fora dos padrões, cada uma do seu jeito”, conta Jussara, que nos anos 70 foi a famosa passista Jussara da Ekypelanka, musa do Carnaval piracicabano, e hoje, nada mais natural, é dona de uma academia de dança.

Já na família Bordenale, o traço de união é a vaidade. “Eu me lembro sempre da minha mãe vaidosa e bonita, com os cabelos lisos e bem tratados. Eu chamava o banheiro dela de Charm Cosméticos, porque nunca vi uma pia com tanto produto de beleza”, lembra. “Eu adorava cremes, tinha um para o rosto, um para as mãos, um para os pés. O meu preferido era o da Ponds, que não tem mais. Hoje uso da Nivea”, diz Silvana.

Esse cuidado com a beleza foi passado para as filhas e as netas. Assim como a culinária, mas não a trivial, e sim a de festa. “Não era o arroz com feijão, mas o bolo que ela sempre fazia para juntar a família ou comemorar alguma coisa”, conta Silvana. O bolo de fubá da dona Marita, revela a arquiteta, já virou tópico de destaque no Facebook. “Outro dia eu postei que tinha feito o bolo da dona Marita e muita gente me pediu para guardar um pedaço”, brinca. E o que a receita tem de tão especial? Marita dá um toque de ‘Romeu e Julieta’, acrescentando pedaços de queijo e goiabada e polvilhando queijo ralado por cima. “Fica de lamber os beiços”, revela Silvana, que já é craque na receita. Bruna já aprendeu a fazer e foi aprovada. Agora só falta Victoria.

Para a arquiteta, para além dessas questões leves, a mãe foi também um exemplo de independência. “Ela não era uma dona de casa comum, a rainha do lar. Minha mãe tinha carro, dirigia e ia para a praia levando a gente e pilotando. Ela era dona de uma loja em Tietê e também viajava bastante para fazer as compras. Isso foi um exemplo para mim e procurei transmitir para as meninas.”


DANÇA

Na família de Jussara, a dança une as quatro gerações. E começou muito antes que ela mostrasse samba no pé nos desfiles dos anos 70. Afinal, a avó já tinha paixão por dançar valsas nos bailes de fim de semana da Società Italiana. “Eu ia sempre. Era um tempo diferente. O cavalheiro usava um lenço na mão para que as mãos não tocassem diretamente na dama”, recorda. Maria Angélica, ou Meire como é conhecida, pegou o gosto. “Adorava dançar bolero. Cheguei a dançar no Teatro Santo Estevão. Por mim, eu seria bailarina. Mas tive de escolher outra profissão. Fiz letras e acabei me encontrando como professora”, conta.

Mas admite que transmitiu a paixão para a filha, e também realizou-se por meio dela. “Ela me colocou na aula de balé cedinho, com três anos, com a Íris Ast. Gostei de cara e nunca mais parei”, lembra. Fernanda se iniciou com a mesma idade, e mesmo se formando em veterinária, acabou se encontrando na dança. “Acabei me descobrindo no flamenco, que é minha grande paixão.”

Outra característica que as une é o que chamam de gênio valente. São mulheres que, apesar dos percalços, conseguiram romper barreiras em Piracicaba. Afinal, Soledad trabalhava e há 60 anos era gerente do à época elegante Hotel Esplanada. Meire fumava, usava calça comprida e era avançada. “Fui interna do Colégio Assunção, coroava Nossa Senhora da Assunção no dia 15 de agosto todos os anos. Havia muita repressão quando eu era jovem, mas consegui achar o equilíbrio”, explica. Jussara também rompeu padrões quando desfilou em escolas de samba. “Sempre tem quem fala mal, mas eu sentia muito mais o carinho do público. Teve uma hora que virei uma espécie de celebridade e começou a ficar difícil”, conta. Já Fernanda faz uma reflexão interessante a respeito da capacidade de ampliar limites. “Sinceramente, não sei. Na minha época me parece que tudo está permitido e não tive essa preocupação”. (por Ronaldo Victoria)
 

Materia publicada na Revista Farrawi, maio de 2013.
Para ler a revista completa, acesse http://www.mbmideias.com.br/capa.asp?idpaginainst=issuu_custom&id=2

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