Fazemos acontecer

Um tempo de férias

Publicado na Revista Monte Alegre | 07ª Edição | Fevereiro | 2012
Foto: Crédito: Reprodução

Há alguns anos, participei de um Congresso Internacional de Arte-Educação, realizado no Rio de Janeiro, no qual debati um texto meu sobre Educação Sinestética. Ali eu questionava a divisão existente entre os conceitos de trabalho e lazer privilegiando o primeiro com a produção de recursos para sobrevivência e o segundo com descanso e prazer.

Para mim, qualquer atividade que o ser humano desenvolva na qual ele se coloque por inteiro, acreditando no que faz, pode resultar em grande sensação de dever cumprido e também de genuíno prazer. As pessoas que trabalham assim parecem melhor resolvidas e mais satisfeitas. Ouso dizer que também mais felizes, embora saiba que todos esses conceitos sejam muito relativos e discutíveis.

A questão que levanto aqui diz respeito ao tênue limite entre o que consideramos trabalho e o que consideramos lazer.

Conhecemos boa parcela da população que se envolve de tal forma com seu trabalho que jamais se permite um descanso, uma mudança de atividades, muitas vezes até em detrimento de seu convívio social e familiar. São os chamados workaholics que, em inglês, significa viciados em trabalho.

A integração entre trabalho e lazer é uma busca importante para o equilíbrio pessoal e coletivo. Até mesmo no Gênesis da Bíblia está escrito que ao sétimo dia, depois de seis dias envolvido na criação do nosso Universo, Deus descansou.

Mas o que dizer de pessoas que, ao contrário, passam todo o seu tempo sem trabalho ou atividade alguma a que possa atribuir importância, utilidade e significado em suas vidas? Curioso é perceber que essas pessoas apresentam algo em comum com aquelas que trabalham demais: tampouco conseguem estabelecer um convívio social ou familiar saudável. Sem trabalho algum o próprio lazer perde sua identidade e interesse.

Trago essa questão para meu momento pessoal, que ainda passo por tratamento quimioterápico, após ter vencido importante luta contra um câncer de ovários que, felizmente, está praticamente debelado. Ainda não pude retomar meu antigo ritmo de trabalho e envolvimento num incontável número de atividades das mais diversas: aulas, artes, design, vídeo, música, textos, livros e muitos relacionamentos familiares e sociais. Tenho relatado em outros números desta revista difíceis situações de adaptação a essa realidade.

Um dia desses, minha sábia irmã Cida, médica que vive em Piracicaba, mandou-me um conselho pela internet, que quero compartilhar aqui. Ela me disse: “Aproveite, ‘mermã’, ao menos uma vez na vida, curtir o ócio sem angústia, você merece esse descanso, um tempo sem se preocupar com nada a não ser se cuidar, ainda que hoje isso possa lhe parecer difícil! Logo, logo você estará novamente tão ocupada que vai ter saudade desse seu forçado ‘tempo de férias’.” Que assim seja!!!

 

Rê Fernandes é piracicabana, mora no Rio, é artista multimídia, designer, professora e pesquisadora das linguagens artísticas. É autora do livro Da Cor Magenta – Um Tratado Sobre o Fenômeno da Cor e Suas Aplicações, pela Editora Synergia, RJ.

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