Fazemos acontecer

A vida ao vivo e em cores

Publicado na Revista Monte Alegre | 09ª Edição | Julho | 2012
Foto: Divulgação

Com tantas possibilidades tecnológicas à nossa disposição, mesmo num país em desenvolvimento como o Brasil, de dimensões continentais, raras são as comunidades aonde não chega ao menos um sinal de rádio ou de televisão.

Alguns centros urbanos isolados colocam uma grande TV ou telão na praça pública garantindo à sua população o acesso a toda a sorte de informação audiovisual produzida por grandes redes, de acordo com o sistema político vigente.

Até mesmo em distritos pobres ou rurais, a internet já chega. Os telefones celulares hoje estão nas mãos de todos, sem distinção de classe social, idade ou raça. Muitos índios, inclusive, ainda vivendo de acordo com suas culturas, já o adotaram. Esses telefones acumulam diversas funções como produzir, armazenar e reproduzir fotos, filmes, músicas, jogos e até mesmo entrar na internet. Tablets, iPads, iPhones, iPods, iIsso ou iAquilo e tantos outros dispositivos que surgem, a cada dia que passa, vêm fazendo com que a comunicação seja cada vez mais rápida e global. Podemos receber em qualquer lugar do planeta notícias fresquinhas do mundo todo até na mesma hora em que o fato está ocorrendo.

Algumas pessoas mais velhas ainda ficam resistentes a tudo isso e pagam o alto preço de ficarem desatualizadas e anacrônicas (fora do seu tempo). Crianças bem pequenas já levam seus dedinhos a um botão ou teclado esperando consequências. Elas já nasceram num mundo cibernético.

Entretanto, como tudo tem um senão, fica a pergunta: será que a humanidade está realmente se comunicando melhor? Acho que mais comunicação, sim, está ocorrendo, mas não podemos afirmar que melhor.

A questão sobre a qual tenho me debruçado e provocado acaloradas discussões está ligada ao fato de que toda essa parafernália resulta numa comunicação virtual e não garantidamente real nem verdadeira.

Em sua virtualidade, os meios tecnológicos de comunicação nos estimulam os sentidos da visão e da audição. E a própria denominação – meios - já indica que são intermediadores e não interlocutores. Nessa relação entre a pessoa e a mensagem intermediada, surgem grandes lacunas e interferências. A ausência dos outros sentidos (tato, olfato e paladar), as diferenças entre as dimensões reais e as que aparecem (peso, tamanho, profundidade, textura) e as intenções ou o que realmente se quer comunicar, tudo isso concorre para uma espécie de enfraquecimento na qualidade da comunicação.

Aproveitando que hoje, 18 de abril de 2012 (dia em que estou escrevendo este texto), faz 130 anos que o grande Monteiro Lobato nasceu, quero lembrar uma das frases da Emília, personagem do seu Sítio do Pica-pau Amarelo. Ela fala: “(...) verdade é uma espécie de mentira bem pregada, das que ninguém desconfia. Só isso.” Lembro-me muito bem quando li essa frase quando criança do impacto que ela me causou. Eu devia ser muito pequena, pois, até então não havia sequer pensado nisso.

Monteiro Lobato foi um dos grandes gênios que este país já teve. Ele foi um dos primeiros artistas a ceder seus talentos à publicidade, criando textos e até personagens como o Jeca Tatu que divulgava o Biotônico Fontoura.

Dispensando a polêmica quero, com a frase da Emília, apenas lembrar o caráter pouco confiável que já existe na comunicação interpessoal, o que dizer então da comunicação virtual? Terão os espectadores de hoje, os internautas, os usuários das redes sociais e dos meios de comunicação audiovisual em geral a consciência dessa fragilidade? Estará a sociedade atual devidamente preparada para fazer uma leitura crítica de tudo aquilo que vê e ouve, identificando o que é verdadeiro do que não é? Saberão fazer a devida distinção entre o que é parcial ou total?

Sabemos o quanto os meios de comunicação influenciam na formação de nossos jovens e são formadores de opiniões. E sabemos também como as escolas estão longe de preparar os alunos para o uso efetivo da linguagem audiovisual e dos meios de comunicação atuais.

Caminhamos a passos largos para tornar essa fantástica diversidade dos maravilhosos artefatos eletrônicos acessível à grande maioria dos cidadãos. Mas será que isso também estará contribuindo para uma evolução humana, através da qual as pessoas possam estar se tornando cada vez mais bem informadas, mais éticas, mais verdadeiras, mais confiáveis e mais amorosas? Ou será o contrário?

Gostaria de encontrar respostas para essas e outras questões sobre esse vasto e complexo tema.

Que tal pensarmos nisso juntos?

 
Re Fernandes é piracicabana, mora no Rio, é artista multimídia, designer, professora e pesquisadora das linguagens artísticas. É autora do livro Da Cor Magenta – Um Tratado Sobre o Fenômeno da Cor e Suas Aplicações, pela editora Synergia, RJ.

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